A farsa, irresponsabilidade e até enganação do acesso aos "registros akáshicos"
O “akasha” (ou “éter”, numa tradução para o ocidente), o quinto elemento, além de terra, água, fogo e ar, que representa uma espécie de “memória universal”, seria acessível através de estados alterados de consciência?
Os chamados “registros akáshicos” não são de origem tão antiga como muitas vezes se afirma; são uma invenção moderna. A expressão nem existe em sânscrito, que é a língua sagrada do hinduísmo, de onde dizem que vem. São descritos como uma espécie de biblioteca cósmica que guardaria toda a informação do passado, presente e, em algumas vertentes fantasmagóricas, até do futuro de cada alma e do próprio universo. Já imaginou alguém ter acesso a isso?
No oceano das pseudoterapias da Nova Era, novas formas de adivinhação ou cura, aprimoramento espiritual ou conhecimento “superior” são oferecidas todos os dias. Neste momento, temos ativa a conjunção entre Saturno e Netuno em Peixes, que entrarão juntos a zero grau de Áries em 2026. Na época do surgimento da expressão Akasha por Annie Besant, em 1897, estavam em oposição no eixo Sagitário-Gêmeos. Muitos, ao ouvirem uma palavra de origem sânscrita, hebraica ou grega, imaginam que o que está sendo oferecido é uma sabedoria antiga, esquecida durante séculos. Assim, há quem use dessas expressões para passar credibilidade e autenticidade.
Quando ouvimos que um psicólogo ou terapeuta participa de uma “leitura de registros akáshicos”, a confusão se torna maior. Mas o que são esses registros? Uma nova terapia? Uma nova moda na psicologia? Superstição? Pseudociência? Adivinhação com um novo nome? Na realidade, como tudo o que a Nova Era promove, tem de tudo um pouco. No caso do Brasil, há uma mistureba entre Teosofia, Espiritismo Kardecista travestido na expressão Apometria, Tethahealing, Psicologia, Constelação Familiar… E cada professor vai fazendo a sua salada mista, estabelecendo seu método ou chamando-o de “protocolo” para passar mais segurança.
Uma doutrina esotérica
Os defensores dos “registros akáshicos” pregam que eles existem desde a criação do mundo e que eram conhecidos pelas grandes civilizações da antiguidade. Muitos “videntes” e supostos especialistas no assunto entendem que esses registros existem desde a criação do universo e que foram criados por Deus. Segundo seus defensores, funcionam como um banco de dados do mundo mineral, vegetal, animal e humano, incluindo até fenômenos paranormais. Para eles, é um conhecimento transcendental de todas as coisas e da própria vida. E hoje há instrutores e treinadores que formam discípulos no acesso a esse tipo de suposto arquivo cósmico.
Os teósofos definem os registros akáshicos como uma espécie de memória coletiva de tudo o que aconteceu desde o início dos tempos. Todo o conhecimento do universo estaria armazenado no éter, e os seguidores da Nova Era acreditam e difundem essa crença. Tudo isso foi muito bem embasado pelas sociedades teosóficas e seus dissidentes. É como se fosse possível acessar todas as vidas anteriores; já pensou?
Para eles, os “registros akáshicos” são uma “memória universal da existência, um espaço multidimensional onde estão arquivadas todas as experiências da alma, incluindo todos os conhecimentos e experiências de vidas passadas, da vida presente e de potencialidades futuras. Esse sistema energético contém todo o potencial que a alma tem para a sua evolução nesta vida e a sua verdadeira razão de ser, o sentido da existência. Existe para o plano individual, planetário e universal com diferentes frequências vibracionais. Algumas pessoas estariam aptas ou poderiam ser treinadas para acessar um canal, na expressão dos praticantes: fazer uma canalização de acesso a essas ‘personalidades’ ou vidas passadas.
Segundo a Teosofia, apenas alguns podem acessar os registros akáshicos, e isso requer dons especiais, incluindo xamãs, médiuns espirituais ou clarividentes. Cada um acessaria por caminhos diferentes, em sonho ou em viagem astral, mas sempre “saindo do próprio corpo”. Porém, agora isso virou uma febre: youtubers e tiktokers passaram a disseminar e a vender cursos ou sessões nas redes sociais, e cada um desenvolve seu próprio modelo de acesso.
Na origem do conhecimento teosófico, somente a própria personalidade teria esse acesso; porém, o mais comum atualmente nessas práticas comercializadas é o terapeuta fazer o acesso e elucidar determinada narrativa de modo aleatório. Claro que há todo um teatro elaborado de introspecção ou meditação antes do início de cada sessão, colocando o consulente numa situação perigosa, muitas vezes até de transe. Alguns optam por fazer o acesso até antecipadamente e enviam os áudios através do WhatsApp.
A verdade por trás da fantasia
Os “registros Akáshicos” não têm uma origem tão antiga como muitas vezes se afirma; na verdade, são uma invenção moderna. A expressão nem sequer existe em sânscrito, a língua sagrada do hinduísmo, de onde se diz que teria vindo. Ou seja, trata-se de uma expressão criada no contexto das visões e categorizações esotéricas questionáveis de figuras como Madame Blavatsky, Alice Bailey, Charles W. Leadbeater e Annie Besant.
A expressão “akasha” existe em sânscrito e refere-se a uma realidade que foi traduzida como “éter”, uma espécie de fluido intangível, hipotético, imaterial e sutil, que penetrava no universo e servia como veículo de som e vida. Em termos ocidentais, uma palavra mais adequada talvez fosse “Energia”; é o equivalente ao “Ki” para os japoneses, “Chi” para os chineses e “Prana” na Índia. No entanto, o termo “akáshico” ou “registro akáshico” é um neologismo inventado pela teosofista britânica Annie Besant (1847-1933), discípula de Madame Blavatsky e líder mundial do esoterismo e da Sociedade Teosófica. Seus estudos foram questionados muitas vezes, pois alguns pesquisadores alegavam que ela usava táticas ilusionistas, e não mágicas. A primeira ocorrência do termo aparece em um livro de Annie Besant escrito em 1897, intitulado “Sabedoria Antiga”. Antes disso, nada havia; é uma invenção que tem pouco mais de 100 anos, e não milhares, como muitos alegam.
Em seus escritos, Besant argumentou que os antigos mestres acreditavam na existência desses registros em uma realidade desencarnada, desconhecida pela maioria da humanidade. Entre esses mestres, ela incluiu as grandes civilizações conhecidas em sua época: Druidas, Caldeus, Egípcios, Gregos, Hebreus, Hindus, Maias, Árabes, Persas, Chineses, Tibetanos e Cristãos. No entanto, é claro, ela nunca forneceu nenhuma prova histórica disso, pois foi uma invenção sua, atribuída a alguns supostos mestres citados em seus livros, como o Tibetano. Nenhuma dessas civilizações realmente tinha conhecimento desses registros. O fato é que poucas pessoas questionam essas informações, pois foram sistematizadas de forma muito inteligente, inspirando-se e se apoiando em diversas correntes que já fazem parte do inconsciente coletivo. Um exemplo disso é a expressão “Cristo Cósmico”, comum em discussões desse tipo.
Alice A. Bailey (1880-1949) tentou, inclusive, se intrometer na Astrologia através do livro “Astrologia Esotérica: O Tratado sobre os Sete Raios”, que, segundo ela, foi canalizado por seus mestres: o Tibetano, Mestre M, Mestre K.H., Djwal Khul, A.A.B.,, entre outros. Eu tenho essa obra e já tentei compreender seus fundamentos, mas não obtive sucesso, pois ela confunde conceitos primordiais e milenares da Astrologia, chegando a criar planetas hipotéticos, como Vulcano, citado na obra. Para quem não conhece profundamente a Astrologia, isso pode se tornar uma viagem que deturpa alguns dos princípios essenciais da disciplina.
Embora Alice Bailey conhecesse Astrologia e usasse algumas bases da prática, isso pode confundir o estudante que ainda não domina o tema. No Brasil, há projetos com credibilidade, como a Comunidade Figueira, de Trigueirinho, que se baseiam nesses fundamentos. Não se trata de uma vertente da Astrologia, como alguns pensam, inclusive astrólogos de boa índole que apoiam isso, como Oscar Quiroga. A Astrologia realmente funciona como um prisma multifacetado, com inúmeras possibilidades de interpretações, como uma língua; porém, neste caso, há a criação de conceitos que não existem nos mais de 2 mil anos em que o conhecimento astrológico foi sistematizado com base nas leis da natureza.
Quem apoiou e difundiu essas crenças?
Charles W. Leadbeater (1854-1934) relatou suas experiências pessoais analisando os registros do éter na sede da Sociedade Teosófica, na Índia, em 1910. Ali, ele contou histórias sobre Atlântida, civilizações supostamente desaparecidas e fez algumas previsões para o futuro, que não foram comprovadas. Seguindo os escritos de Leadbeater, uma longa lista de teosofistas e esoteristas na Europa e nos Estados Unidos declarou que também poderia acessar os registros Akáshicos e começou a publicar suas descobertas. Leadbeater foi uma figura controversa, com várias de suas afirmações questionadas ou desacreditadas. Ele também foi criticado por alegações de comportamentos pessoais duvidosos e por declarações psíquicas não comprovadas.
Entre esses seguidores estão líderes de diferentes seitas gnósticas e esotéricas, como Rudolf Steiner (fundador da Antroposofia), Max Heindel (fundador de uma vertente dos Rosacruzes), Edgar Cayce, Samael Aun Weor (fundador da Gnose moderna), e os ocultistas Manly P. Hall e Dion Fortune, entre outros. No Brasil, além de José Trigueirinho Netto (1931-2018), outros nomes de peso, como o Professor Henrique José de Sousa (1883-1963), da Eubiose, e, mais recentemente, o professor de Astrologia e Youtuber Nilton Schutz, beberam dessa fonte e se tornaram grandes difusores desses conhecimentos, também denominados ocultistas.
Pura invenção teosófica?
É interessante descobrir que as tradições religiosas mais envolvidas, segundo os teósofos, são o Budismo e o Hinduísmo. Paradoxalmente, nem os budistas nem os hindus aceitam esses registros, uma vez que não há qualquer menção a eles em seus textos sagrados. Como tantas ideias atribuídas às religiões orientais que não são verdadeiras, essa também foi uma invenção da Sociedade Teosófica. Antes, tudo isso era aplicado somente em colégios iniciáticos (as chamadas ordens iniciáticas das idades), mas o desafio maior agora é que isso virou um comércio desenfreado, no qual qualquer um pode fazer um curso online de final de semana e se tornar um terapeuta integrativo de leitura ou canalização dos "registros akáshicos".
Obviamente, apesar da linguagem pseudocientífica que seus defensores utilizam hoje, não há validade científica nesses conceitos, que se baseiam apenas em fantasia esotérica. Nos livros sobre o assunto, há inúmeras citações de textos sagrados e de autores espirituais, muitos dos quais são inexistentes, como os “mestres ascensos”, que não têm base real, mas foram cuidadosamente desenhados e disseminados. Inclusive, o movimento teosófico liderado por Leadbeater tentou convencer ou até manipular o professor espiritual e filósofo indiano Jiddu Krishnamurti a se autointitular o próximo Avatar da Era de Aquário (Maytreia), acreditando que ele seria o “veículo” instrutor do mundo. No entanto, ele recusou essa posição e, respeitosamente, passou a ser um grande pensador livre, questionador de sistemas de ordem espiritual criados pelas mentes dos teosofistas e outros, reforçando a ideia de que devemos ser nossos próprios mestres espirituais.
A mistura com o Espiritismo e outras vertentes
Nessa teoria dos mestres ascensionados, ou mestres ascensos, eles seriam seres que alcançaram um grande desenvolvimento espiritual após muitas encarnações como humanos. O termo é esotérico, e a palavra "avatares" é outra expressão sânscrita usada. Na doutrina da Grande Fraternidade Branca, outro termo atribuído aos Mestres Ascensos, cada um dos sete raios cósmicos tem um mestre ascensionado responsável. Toda essa doutrina se misturou com o Espiritismo no Brasil, o que deu ainda mais credibilidade a ela.
Isso se intensificou ainda mais com uma onda denominada Apometria, uma mistura de hipnose com sessões espíritas, utilizando termos do hebraico, como Kadosh Kadosh Kadosh (ou Kodoish Kodoish Kodoish) Adonai Tsebayoth, que significa algo como "Santo, Santo, Santo é o Senhor, o Soberano deste Universo”, mas que ninguém sabe ou se preocupa com o significado, apenas com a sensação hipnótica de poder ou "credibilidade" por se utilizar um termo de uma língua estranha.
Os sete raios estariam relacionados aos sete chakras do corpo humano, e cada um deles tem um arcanjo. Enfim, criou-se um sistema muito bem elaborado, tendo como base outros princípios essenciais do esoterismo, inclusive envolvendo a Astrologia. O número 7 realmente tem uma correlação direta com a manifestação; são, de fato, sete vizinhos visíveis a olho nu do planeta Terra: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Esses planetas estão relacionados aos sete dias da semana, sete notas musicais, sete cores, sete orifícios na face humana e sete glândulas.
Porém, esse sistema desrespeita alguns fundamentos essenciais, pois o conhecimento astrológico tem uma base observável na natureza, como as estações do ano e os quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Neste sentido, houve a criação ou endeusamento de muitos outros personagens ou entidades de luz. Para quem estuda a fundo, isso é encantador, pois os conceitos foram muito bem elaborados, e o sincretismo com outros sistemas religiosos históricos gera ainda mais credibilidade. Alguns exemplos de mestres ascensionados são: Jesus, Serapis Bey, Lanto, Hilarion, Kuthumi, El Morya, Saint Germain, Djwal Khul, entre outros, com suas variações, pois novas figuras vão sendo incluídas como sendo seres elevados. Veja a complicação: até Jesus, o Cristo, foi envolvido nessa narrativa. E quando se fala do Cristo no Brasil, todo mundo acredita.
Entre as pseudoterapias e a Nova Era
Atualmente, vários psicoterapeutas, que não têm problemas em misturar suas técnicas psicológicas com pseudoterapias da nova era, incorporaram a “leitura de registros Akáshicos” nas sessões psicoterapêuticas. Com ações desse tipo, o psicólogo se torna uma espécie de xamã que inicia seus pacientes em universos paralelos e viaja por outras dimensões. A propósito, o principal objetivo de Alice A. Bailey, no Tratado sobre os 7 raios, segundo ela, era transformar o que chamou de Astrologia Esotérica na nova Psicologia. José Trigueirinho também defendeu bastante essa ideia.
Os promotores dessa abordagem afirmam que não há questão que não encontre resposta nos Registros Akáshicos. “A maravilha dos Registros não reside apenas em serem fonte de uma imensa quantidade de informações, mas no seu potencial para nos curar, ativar nossa Maestria Pessoal e nosso DNA, ou seja, para viver a vida que somos chamados a viver”. Assim, a criatividade de seus difusores vai longe.
Alguns prometem “cura akáshica”, através da qual, em contato com os registros, é possível mudar toda a vida, as atitudes e curar doenças. O que as pessoas não sabem é que, nesse momento, podem abrir seus canais psíquicos ou parapsíquicos a parasitas energéticos ou males espirituais. Pois, na maioria das vezes, as pessoas estão em situação de vulnerabilidade, enfrentando desafios que a medicina ou as terapias convencionais não conseguem resolver, e acabam nas mãos de quem não conhecem devidamente.
Em inúmeros artigos e cursos sobre o assunto, pode-se observar a interminável lista de afirmações sem embasamento histórico ou científico a respeito de tais registros, pois trata-se simplesmente de uma crença supersticiosa, com uma linguagem pseudocientífica que, assim como a Nova Era, é capaz de unir de maneira incrível o budismo, o espiritismo, o inconsciente coletivo de Jung, as profecias maias, a física moderna, a magia, a Bíblia e a psicanálise. E, como há essa mistura com esses conhecimentos, acaba passando credibilidade.
Além disso, muitos desses profissionais são formados em Psicologia, Pedagogia, Enfermagem, Nutrição e Medicina. Inclusive, nenhum dos profissionais que conheci até agora é iniciado em ordens como Maçonaria, Eubiose, Rosacruz, etc., e sequer conhecem os pilares dos estudos de Blavatsky, pois receberam esses treinamentos de terceiros que também não se aprofundaram nessas fontes de conhecimento. Muitas vezes, livros como A Doutrina Secreta são densos e confusos, e quem não é iniciado não tem paciência para estudar. Outro ponto é que essas "Ordens Iniciáticas das Idades" costumam zelar com responsabilidade por esses conhecimentos supostamente mágicos, não havendo uso comercial fora das Lojas ou Templos. Falo com propriedade, pois fui iniciado em todas essas ordens que citei.
Como costuma ser essa experiência e como se prevenir
O pensamento mágico hoje encontra terreno fértil, onde qualquer um é semeador e qualquer tipo de fantasia é colhida como se fosse a última descoberta científica. Alguns ainda misturam essas técnicas com o acesso a entidades extraterrestres, como os Pleiadianos e Arcturianos. O mais incrível, diante das pesquisas que fiz em minhas próprias experiências, é que, ao ser submetido a sessões com cinco profissionais diferentes, todos pareciam ser pessoas de bem, instruídas intelectualmente, com cursos superiores ou pós-graduação, e que realmente acreditavam no que estavam acessando, com o profundo intuito de ajudar ou curar algo.
Claro que existe toda uma estratégia ou "esperteza" por parte do profissional durante o atendimento. Geralmente, a pessoa tem acesso ao contexto de vida do consulente, e a narrativa "inventada" pelo sistema mental ou psíquico do terapeuta tem uma correlação direta com a história de vida da pessoa, que é sondada em uma anamnese prévia. Por exemplo, o profissional pode pedir para o cliente preencher um formulário em que são relatados desafios com os filhos e o marido; assim, as narrativas criadas terão relação direta com esses temas. Eu acompanhei gravações de clientes que foram submetidos a esses supostos acessos, e muitos saem desorientados ou transtornados do processo. Além disso, tive acesso a casos de famílias destruídas pela influência desses supostos registros.
Participei de sessões em que expus informações sobre a minha vida e outras em que não o fiz. Cada profissional trabalha de um jeito, conforme as diversas correntes já existentes, e as experiências foram bem diferentes. Outro ponto importante é que o terapeuta tem acesso a determinada intenção da nossa parte. Aí é que mora o maior perigo, pois a narrativa se apresenta para reforçar aquele padrão desejado, dando subsídio e fundamento a uma tomada de decisão que pode não ter embasamento terapêutico, tornando-se perigosa diante da fragilidade do momento de vida da pessoa. Isso pode colaborar para a tomada de decisões com base em uma orientação tendenciosa. Por exemplo, em uma briga de casal, o acesso a uma vida anterior em que o cônjuge praticou traição pode enfatizar a raiva, contribuindo para rupturas nas relações.
Em uma das experiências, um familiar meu se consultou em 2018, e eu em 2023, sem que a profissional soubesse que tínhamos uma relação direta. Ela apontou duas narrativas de vidas ocorridas no mesmo país e na mesma década, ou seja, supostamente eu estava encarnado em duas personalidades, como eles chamam, simultaneamente, em uma das décadas dos anos 1700 na Escócia. Foi hilário, pois a terapeuta usou o mesmo país e a mesma época para relatar as duas narrativas envolvendo minha pessoa em experiências de vida e em famílias diferentes. Essa foi uma das provas de que se tratava de uma história inventada pela suposta terapeuta, uma profissional aparentemente renomada, com milhares de seguidores no Instagram.
Conclusão
Deixo registrado que já ajudei inúmeras pessoas a acordar para a realidade de experiências surreais, enganosas, irresponsáveis ou até maldosas, muitas vezes com a intenção de arrancar dinheiro em situações de desespero. Isso ocorre em contextos em que meus clientes ficam com seu campo emocional e psíquico aberto, além de sofrer ataques energéticos. Quando entregamos nosso campo energético para outros neste nível, damos margem para que vampiros ou obsessores entrem em ação, nesta dimensão ou em outras. Portanto, é de suma importância filtrar qualquer informação que não seja passível de comprovação e que possa ser fruto da imaginação de alguém.
É importante ressaltar que alguns seres humanos realmente possuem os canais psíquicos mais aflorados; podemos denominar isso de mediunidade ou até paranormalidade. Ou seja, há uma capacidade de acessar níveis supramentais ou estados alterados de consciência, cujo processo é muito difícil de distinguir entre fantasia e "realidade espiritual". Isso demanda treinamento e acompanhamento de mestres espirituais de fato, algo raro nos dias atuais. Inclusive, essas pessoas mais sensíveis (conheço várias e consigo identificá-las através do Mapa Astrológico) são os principais alvos dos cursos, sessões e formações desse tipo — é a lei da atração.
Essas pessoas podem ter seus sistemas psíquicos embaralhados por técnicas irresponsáveis, difundidas em demasia e sem controle nos dias atuais, principalmente entre as mais sugestionáveis. Na cabeça desses médiuns ou pessoas mais sensíveis, elas estão realmente canalizando essas supostas vidas passadas, algo hipotético que não tem embasamento sério nos anais dos estudos espirituais ou esotéricos, de que isso seja de fato possível. Se for, seria algo raríssimo. Ou os ensinamentos de instituições "secretas", como a Teosofia, são distorcidos ou mal utilizados.
As faculdades mentais dos indivíduos vão muito além do que sabemos, e desde os primórdios da humanidade há registros desses estados alterados de consciência, que podem inclusive acessar outras línguas, como nos processos de glossolalia e xenoglossia. Há dinâmicas de incorporação de entidades de outras dimensões nas religiões afro-brasileiras, Santo Daime, entre outras. Esses processos tendem a retornar em proporções fora do normal nas próximas duas décadas. Mas é necessário ter muito cuidado, pois há um número enorme de pessoas que fazem uso desrespeitoso ou ignorante dessas práticas, muitas vezes sagradas.
Em todas as crises culturais da história, e agora estamos passando pela maior de todas, o pensamento mágico ressurgiu com grande força e visibilidade, tal como aconteceu há 250 anos, na época da Revolução Francesa. Agora, com Plutão retornando a Aquário, cria-se uma nova ordem social e cultural mundial. Como escreveu Bergson em 1932: “Rejeitada pela ciência, a tendência para a magia persiste e aguarda o seu tempo”. Em tempos atuais, o pensamento mágico deve tomar conta da psique humana ainda mais, com o colapso das religiões.
A quem tiver que vivenciar experiências dessa natureza, recomendo que encare-as como uma alegoria desenvolvida pela mente criativa ou pela sensibilidade da própria pessoa. Se você realmente quiser fazer isso, busque uma iniciação em uma ordem séria e exija que você mesmo acesse suas memórias. E mais, tenha muito claro o porquê de querer isso, pois se Deus nos fez esquecer das vidas passadas, deve haver um propósito muito nobre que devemos respeitar.
@Saimagos (11) 9 6690-6266
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